Manuel Ribeiro de Pavia

Manuel Ribeiro de Pavia
Nascimento 19 de março de 1907 (117 anos)
Pavia
Morte 19 de março de 1957 (50 anos)
Lisboa
Nacionalidade Portugal Português
Ocupação Pintor e ilustrador
Principais trabalhos Cabeça de alentejana
Alentejanos, 1946, desenho colorido

Manuel Ribeiro de Pavia (Pavia, Mora, 19 de Março de 1907 — Lisboa, 19 de Março de 1957) foi um pintor e ilustrador português, neo-realista.

Morreu no seu aniversário, aos 50 anos.

A broncopneumonia e o corpo debilitado pela fome crónica e pelo orgulho sorbebo cortaram a meio a obra do mais estimado ilustrador português.

No quarto da pensão onde vivia, na Rua Bernardim Ribeiro, em Lisboa, acompanharam o seu último alento alguns escritores para quem generosamente desenhava os livros que vieram a constituir o coração do Neorrealismo português dos anos 40 e 50 do século passado.

Avesso à pintura de cavalete e aos circuitos de validação do mundo das artes plásticas, criou algumas das mais belas caps daqueles anos para o escol da intelectualidade da época, de Alves Redol a Namora, de Antunes da Silva a Domingos Monteiro, de Tolstoi a Dostoievski, e para emblemáticas editoras como a Portugália, a Guimarães, a Inquérito e a Sociedade de Expansão de Cultura. O feitio esquivo e a obsessão pelo Alentejo natal fizeram dele, sobretudo a partir da sua morte, um ícone para os oposicionistas do Estado Novo, que grafaram na revista Vértice uma rara homenagem, criando uma linda imortal à volta do artista a quem José Gomes Ferreira apelidava carinhosamente de " Princípe Sem Vintém"

Obras e exposições

Participou nas Exposições Gerais de Artes Plásticas, entre 1946 e 1953 (1946-1956), na Exposição dos Modernos Gravadores Portugueses (Galeria de Artes e Letras 1955), e na Exposição de Gravura Portuguesa (Pórtico, 1956). Integra a lista de colaboradores da revista Panorama [1] (1941-1949)

Em 1950 publicou um conjunto de quinze desenhos denominado Líricas[2], acompanhados de um texto escrito por José Gomes Ferreira.

Em 1952, deu uma entrevista ao jornal Ler.

Ilustrou a novela "Senhor e Servo" de Leão Tolstoi, trad. José Marinho, Ed. Inquérito, Lisboa 1958.

Intervenção azulejar no "Bloco do Sol", no Lobito, projecto do arquitecto Francisco Castro Rodrigues.

A OBRA "O SONHO"

Noite dentro, uma figura

A morte e depois

Morreu em 19 de Março de 1957 - precisamente no dia em completava 50 anos - no seu quarto-atelier, numa pensão na Rua Bernardim Ribeiro em Lisboa. Eugénio de Andrade, que o conhecia bem, em Os Afluentes do Silêncio, falou dele: "Esta morte, assim sem mais nem menos, que um amigo me comunica, entala-se-me na garganta. «Morreu o Manuel Ribeiro de Pavia. Levou-o uma pneumonia que o foi encontrar depauperado por uma vida quase de miséria. Passava fome! Tinha uma única camisa! Não pagava o quarto há imenso tempo! E nós a falarmos-lhe de poesia...» Assim é: passava realmente fome. Todos nós o sabíamos. E ele a falar-nos de pintura, de poesia, da dignificação da vida. É justamente nisto que residia a sua grandeza. Não falava da sua fome - de que, feitas bem as contas, veio a morrer. A fome não consta de nenhum epitáfio. ..."

Em Maio de 1957 a revista Vértice publicou um número especial com depoimentos de intelectuais que é um vivo testemunho da sua actividade na vida artística portuguesa[3].

Em 1958, um grupo de amigos do artista realizou, na Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA), em Lisboa, a única retrospectiva da sua obra.

Em Abril de 1976, na Feira Internacional de Lisboa (FIL), foi apresentada, no Mercado Popular do Livro e do Disco, uma exposição documental sobre a sua obra, que posteriormente foi exibida em várias cidades do país.

Casa-Museu

Na localidade onde nasceu (Pavia), foi criada a Casa Museu Manuel Ribeiro de Pavia.

Em 1983, a Câmara Municipal de Mora compra um prédio no Largo dos combatentes da Grande Guerra, em Pavia, destinado à instalação do Centro Dia da 3ª idade.

Um edifício de dois andarem implantado no terreiro onde se diz ter nascido Manuel Ribeiro de Pavia. Como o espaço do Centro de Dia ocupa apenas o rés do chão, logo nasce a ideia de usar o primeiro andar para homenagear e perpetuar, na sua terra natal, a obra do artista. O pintor Rogério velho amigo de Pavia, e com ateliê em Estremoz, apoia a iniciativa e, a troco de nada, desenha o projeto, o mobiliário, monta e decora o espaço, recolhe os materiais que perpetuarão a vida e a obra de MRP.

Finalmente, Rogério constitui a Comissão de Honra da Casa-Museu, que integra, além da Câmara Municipal de Mora e da Junta de Freguesia de Pavia, intelectuais e artistas amigos de Pavia e que gentilmente oferecem a grande parte das obras que constituem o acervo da Casa-Museu. A Inauguração acontece a 16 de Junho de 1984. Em 2007, a Casa-Museu celebra o centenário do nascimento de MRP com a edição do livro Pavia, comissariado por Rogério Ribeiro, a exposição Manuel Ribeiro de Pavia, na galeria da Casa da Cultura de Mora, a inauguração de um painel de azulejos em Pavia, localizado no Parque Urbano, e a exposição itinerante Um Príncipe Sem Vintém, que circula pelas escolas da região.

Em 202, a Casa-Museu é profundamente remodelada, e ganha um novo programa expositivo. Manuel Ribeiro de Pavia, figura maior do Neo-realismo português, amplia agora a relevância que lhe cabe, por direito, nas artes visuais portuguesas e na memória das gentes do Alentejo.

Uma Amizade Para a Vida

Tinham-se cruzado na pensão da Rua Bernardim Ribeiro quando Alberto Franco Nogueira deixara a casa paterna em Vila Franca de Xira. Alberto tornar-se-á uma das figuras mais influentes do Estado Novo, primeiro como diplomata, depois como ministro dos Negócios Estrangeiros.

Mas a política nunca ensombrou uma amizade, forjada para toda a vida. Alberto e Vera casaram em 1947 e Pavia seria presença assídua à hora de jantar na casa da família, às Amoreiras. Aí deixou inúmeros desenhos e gravuras, como um retrato de Vera, autora do livro Breve, de 1960, que inclui também um poema dedicado ao amigo. A cumplicidade com a família Franco Nogueira incluía longos passeios de automóvel pelo interior país, onde Pavia, com o seu único fato, muito coçado se deixava fotografar por Vera. em 1957 Alberto e Vera não poderão valer à agonia de Pavia. A sua dramática morte, no dia do seu 50º aniversário, ocorre com o casal em Londres, em funções oficiais. Vera haveria de honrar a memória do artista fazendo publicar nos jornais, a 19 de maio dos anos seguintes, artigos sobre a vida e obra de Manuel Ribeiro de Pavia.

Anos depois, em 1960, Alberto colocaria a sua carreira em risco ao transportar na mala de uma viatura oficial quadros de Pavia para uma exposição na galeria Divulgação, no Porto.

Ficheiro:Retrado de Vera.jpg





Notas

  1. José Guilherme Victorino (julho de 2018). «Ficha histórica:Panorama: revista portuguesa de arte e turismo» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 14 de setembro de 2018 
  2. Lisboa, Editorial Inquérito. Ver aqui
  3. Ver capa.

Ligações externas

  • Algumas ilustrações de Manuel Ribeiro de Pavia
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