Manoel Lisboa
Manoel Lisboa | |
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Foto inclusa na ficha da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo | |
Nome completo | Manoel Lisboa de Moura |
Pseudônimo(s) | Galego |
Nascimento | 21 de fevereiro de 1944 Maceió, Brasil |
Morte | 04 de setembro de 1973 (29 anos) São Paulo, Brasil |
Manoel Lisboa de Moura (Maceió, 21 de fevereiro de 1944[1] — São Paulo, 4 de setembro de 1973[2]), conhecido como "Galego", foi um militante comunista brasileiro, fundador do Partido Comunista Revolucionário (PCR), de vertente marxista-leninista.
Foi um dos casos investigados pela Comissão da Verdade, que apurava mortes e desaparecimentos ocorridos durante a ditadura militar brasileira.
Biografia
Juventude
Filho de Augusto de Moura Castro, oficial da Marinha, e de Iracilda Lisboa de Moura, sua formação político-ideológica[3] não se deu apenas por meio de leituras, nem sua prisão ocorreu simplesmente por vender livros proibidos. Ainda adolescente, organizou o grêmio do antigo Liceu Alagoano, depois Colégio Estadual. Foi diretor da União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas (Uesa) e aos dezesseis anos ingressou na Juventude Comunista do PCB. Como universitário, organizou o Centro Popular de Cultura da UNE (CPC), apresentou e dirigiu peças de teatro, envolvendo, inclusive, operários da estiva.[4]
Militância no PCdoB
Após o golpe militar de 1964, o regime encontrou-o cursando Medicina na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), de onde o expulsou, cassando-lhe os direitos políticos.[4] Nessa ocasião, pertencia ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), organização criada em 1962, diante da linha reformista adotada pelo velho “Partidão”, desde o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, fato que provocou a cisão dos militantes.
Lisboa transferiu-se para o Recife, onde continuou na luta revolucionária e trabalhava na Companhia de Eletrificação Rural do Nordeste (CERNE). Em julho de 1966, foi novamente preso, logo após o atentado contra o ditador de plantão, marechal Artur da Costa e Silva, ocorrido no Aeroporto dos Guararapes. A polícia não conseguiu incriminá-lo, pois o inquérito comprovou que ele, no momento do ocorrido, estava trabalhando na Cerne com seu irmão, engenheiro e capitão do Exército. Posto em liberdade quatro dias depois, concluiu que não era possível continuar levando uma vida legal e dedicar-se à causa revolucionária, optando então pela vida clandestina.
Fundação do PCR
Em Dezembro de 1966, Manoel Lisboa de Moura, Amaro Luís de Carvalho, o Capivara (Veja A Verdade, nº 9), Ricardo Zarattini Filho (engenheiro, banido do Brasil em 1969, após o sequestro do embaixador estadunidense) e outros companheiros fundaram o Partido Comunista Revolucionário (PCR).[5]
Apesar das duras condições da luta clandestina, o PCR procurou ligar-se às massas camponesas, operárias e estudantis em todo o Nordeste. Para isso, desenvolvia trabalho de conscientização na base e intensa campanha de denúncias das arbitrariedades e crimes cometidos contra os trabalhadores, conclamando o povo para organizar-se e lutar por seus direitos. O partido propunha a utilização de todas as formas de luta, legais e ilegais, abertas ou clandestinas, destacando a Guerra Popular Prolongada como a única capaz de destruir realmente a ditadura, desde que contasse com o apoio, a compreensão e a simpatia do povo. Sobre a estratégia revolucionária do partido, Manoel afirma:
Do ponto de vista tático o campo é mais importante do que a cidade para os revolucionários, porque o aparelho de repressão do inimigo é mais débil nas áreas rurais e tem dificuldades de nelas penetrar. Nessas condições, observando o princípio de superioridade relativa de concentrar contra o inimigo forças duas ou três vezes maiores em todas as ações concretas, é possível através da guerra popular derrotar por partes os "gorilas", por isso a guerra popular também é prolongada. Prolongada por que no inicio da luta o inimigo é taticamente forte e as forças populares são débeis. Somente é a guerra que pode inverter os papeis tornando o inimigo débil e as forças armadas populares fortes. Essa mudança acarreta o controle de amplas zonas rurais pelas forças armadas populares dando em conseqüências o "cerco da cidade pelo campo", compreendendo cidade onde o inimigo é ainda taticamente forte, pois ai localiza-se seus quartéis e bases.[6]
Prisão e tortura
Segundo o relatório do exército[2] sobre Manoel Lisboa de Moura e Emanuel Bezerra dos Santos, ambos teriam reagido ao receber voz de prisão e, em decorrência disso, teria se iniciado um tiroteio que culminou com a morte dos militantes. Manoel e Emanuel eram acusados de panfletagens, assaltos e do atentado ao General Costa e Silva em 1966.
De acordo com o dossiê[2] divulgado pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Instituto de Estudo da Violência do Estado - IEVE, contudo, Emanuel e Manoel Lisboa de Moura foram presos em Recife/PE, no dia 16 de agosto e torturados no DOPS daquele estado durante alguns dias. O policial que os prendeu e torturou, Luis Miranda transferiu-os para o DOPS/SP, e, em seguida, para o DOI/CODI-SP, onde foram torturados por dois meses. Fotos das vítimas, reveladas pelo Instituto Médico Legal de São Paulo, mostram cortes, feridas causadas por tiros, e dedos, umbigo, testículos e pênis mutilados.
Morte
Segundo a versão oficial divulgada pelos órgãos de segurança da época[7] seria de que Manoel foi morto devido a um tiroteio no Largo de Moema, na cidade de São Paulo, juntamente com Emanuel Bezerra dos Santos. O capitão do Exército Carlos Cavalcante, membro da família de Manoel tentou resgatar o corpo que, embora tivesse sido enterrado como indigente no Cemitério de Campo Grande/SP, poderia ser exumado, desde que a família se comprometesse a não abrir o caixão, que seria entregue lacrado, ao que a família se recusou, por não poder ter nem ao menos a certeza de que, no caixão lacrado, estava o corpo de Manoel.
Por ocasião do processo de exumação e identificação de Emanuel Bezerra dos Santos, o mesmo foi feito a Manoel, uma vez que ambos foram mortos e sepultados no mesmo local. Seu irmão[4] não quis receber seus restos mortais que, então, foram colocados no Ossário Geral do Cemitério de Campo Grande, com a presença de amigos e entidades.
O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que foi “morto em 4 de setembro de 1973, em São Paulo/SP, após cerrado e violento tiroteio com agentes de segurança."
Legado
O revolucionário dá nome a um centro cultural - o Centro Cultural Manoel Lisboa[8] -, que se encontra na rua Carneiro Vilela, número 138, em Recife, Pernambuco. O CCML é presidido pelo ex-líder estudantil da Universidade Federal de Pernambuco Edival Nunes Cajá, também dirigente do PCR.
Ver também
- Lista de mortos e desaparecidos políticos na ditadura militar brasileira
- Partido Comunista Revolucionário
Referências
- ↑ «DOSSIÊ DOS MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS A PARTIR DE 1964» (PDF). Consultado em 17 de dezembro de 2021
- ↑ a b c «Memorias da Ditadura». Consultado em 17 de dezembro de 2021
- ↑ «Biblioteca Brasil Nunca Mais - DocReader Web». docvirt.com. Consultado em 1 de novembro de 2019
- ↑ a b c «MANOEL LISBOA DE MOURA - Comissão da Verdade». comissaodaverdade.al.sp.gov.br. Consultado em 31 de outubro de 2019
- ↑ «História - Partido Comunista Revolucionário – PCR». Consultado em 1 de novembro de 2019
- ↑ «Carta de 12 Pontos aos Comunistas Universitários». www.marxists.org. Consultado em 18 de novembro de 2020
- ↑ «Mortos e Desaparecidos Políticos». www.desaparecidospoliticos.org.br. Consultado em 31 de outubro de 2019
- ↑ «Centro Cultural Manoel Lisboa». manoellisboa.blogspot.com. Consultado em 31 de outubro de 2019
Ligações Externas
- Manoel Lisboa - Herói da Resistência à Ditadura (documentário)
- http://www.rebeliao.org/2014/09/04/manoel-lisboa-um-homem-de-verdade/ Em falta ou vazio
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(ajuda)
- Portal de biografias