João de Ataíde e Azevedo
D. João de Ataíde e Azevedo | |
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Comissário Geral da Cavalaria do Alentejo | |
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Consorte | D. Catarina de Sá e Sousa |
Nascimento | 1587 |
Penafiel, Rans, honra de Barbosa | |
Morte | c. 1650 (63 anos) |
Pombal | |
Descendência | 1.º Marquês de Pombal (trineto) Fernando da Costa de Ataíde e Teive (trineto) |
Pai | D. Francisco de Ataíde e Azevedo, senhor das honras de Barbosa e Ataíde |
Mãe | D. Brites da Silva, herdeira do morgadio de Guilhabreu |
Título(s) | Comendador de São Salvador de Fornelos |
Ocupação | Fidalgo, Militar, Escritor |
Filha(s) | D. Isabel de Ataíde |
D. João de Ataíde e Azevedo (Penafiel, Rans, Honra de Barbosa, novembro de 1587[1] – Pombal (?), c. 1650) foi um escritor e comandante militar português na guerra da restauração.
Biografia
Era filho segundogénito de D. Francisco de Ataíde e Azevedo, senhor das honras de Barbosa e Ataíde e de sua mulher D. Brites da Silva, herdeira do morgadio de Parada (em Guilhabreu) e do vínculo instituído por Urraca Lourenço da Cunha no ano de 1269.[2]
Dois dos seus tios paternos - o mártir jesuíta, Beato Inácio de Azevedo de Ataíde Abreu Malafaia, e o governador de Ceilão e Vice-rei da Índia, D. Jerónimo de Azevedo - foram figuras relevantes no Império português do século XVI e início do século XVII.
Na sua condição de filho segundo, que o afastava da herança da casa dos pais, começou por seguir a carreira eclesiástica, estudando teologia e sendo admitido como colegial no Colégio Real de São Paulo em 11 de maio de 1613. Mas rapidamente desistiu de prosseguir os seus estudos, preferindo seguir a carreira militar, [3] na esteira aliás do seu sobrinho, D. Francisco de Azevedo e Ataíde.
Participou na guerra da Restauração, na frente alentejana, primeiro como capitão de cavalos e depois – entre 1644 e 1647/8 – como comissário geral da cavalaria do Alentejo.
Em 1641, levantou à sua custa uma companhia de cavalos, que comandou, sendo assim um dos primeiros combatentes portugueses na fronteira do Alentejo.[4]
Comandou uma importante operação militar em dezembro de 1643, na qual conseguiu capturar, perto de Arronches, um rico proprietário português, Sebastião Correia da Silva, que se passara para o lado espanhol. Desde o início da guerra este nacional português dedicava-se a incursões militares no Alentejo, feitas a partir de Badajoz, com sistemática destruição de propriedades e pilhagem de gado.[5]
A importância desta captura foi relevante ao ponto de levar a Coroa a conceder a D. João de Ataíde a comenda de São Salvador de Fornelos,[6] na Ordem de Cristo, que lhe foi confirmada por Alvará de 27 de julho de 1647.[7]
Distinguiu-se também na batalha de Montijo, em 1644.[3]
Em 5 de julho de 1647, as forças que comandava sofreram uma emboscada do exército espanhol em Atalaia da Terrinha,[8] algo que muito desagradou ao recém-nomeado Governador das Armas do Alentejo, Martim Afonso de Melo, 2.º Conde de São Lourenço, que afastou assim D. João de Ataíde do cargo de comissário geral da cavalaria.
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/33/Primeira_p%C3%A1gina_do_manuscrito_%22Regras_Militares_de_Cavalaria_Ligeira%22_por_D._Jo%C3%A3o_de_Ata%C3%ADde_e_Azevedo.jpg)
Sofreu também um processo e consequente condenação, por causa do comportamento da cavalaria no combate da Atalaia da Terrinha. Mas soube defender-se com grande competência, interpondo recursos que resultariam na anulação da sentença de perda do posto.
Pôde assim reassumir o seu cargo, como se infere de uma carta do governador das armas Martim Afonso de Melo, mencionando uma operação levada a cabo por D. João de Ataíde em junho de 1648,[4] na qual este comandou uma incursão portuguesa ao outro lado da fronteira, em represália pelo fracassado assalto espanhol a Olivença, ocorrido no dia 18 desse mesmo mês.[9]
D. João de Ataíde conseguiu assim impor o seu regresso à frente de combate do Alentejo, provando que não apenas ganhara o processo legal e mantivera o seu posto, como também que só acabaria por sair do cargo por sua livre vontade e com a sua honra e prestígio intactos.[4]
Depois de 1648, retirou-se para os domínios que possuía na região de Coimbra (Pombal), deixando definitivamente a fronteira do Alentejo e a carreira das armas.
Obra literária
Foi insigne na arte de cavalaria (além de “muito destro em tourear”)[3] e escreveu entre os anos de 1644 e 1647 um Tratado militar sobre a cavalaria, que ficaria em manuscrito, dedicado ao Rei D. João IV, com 180 páginas e intitulado “Regras militares da cauallaria ligeira / compostas per Dom João de Azeuedo e Attayde, Comissario Geral da caualaria, do exercito, e Prouincia de Alentejo”.[10] (Há planos em curso no sentido de editar e publicar este tratado).[11][12]
Casamento e descendência
Casou em Pombal, a 19.07.1623, com D. Catarina de Sá e Sousa,[13] filha de Cristóvão de Sá Sotomaior (neto paterno de Heitor de Sá, primo coirmão de Mem de Sá, 3.º governador-geral do Brasil)[14] e de sua mulher Antónia de Figueiredo e Sousa.
Do casamento nasceu uma única filha:
D. Isabel de Ataíde (Coimbra, Sé Velha, baptizada em 09.10.1624[15] - Lisboa, Mercês, Rua Formosa, 23.02.1683), que casou em Coimbra, Sé Velha, a 27.10.1647, com Gonçalo da Costa Coutinho, Governador de Aveiro, Buarcos e Figueira,[16] com a seguinte geração:[17]
- João da Costa de Ataíde, governador da ilha da Madeira e Fidalgo-cavaleiro da Casa Real em 1672; sem geração.
- Gaspar da Costa de Ataíde, alcaide-mor de Sortelha, que se casou com Catarina Helena Rosa de Lima (herdeira de seu pai, Cristóvão de Sousa Coutinho, senhor de Baião), com geração; um dos netos deste casal foi Fernando da Costa de Ataíde e Teive de Sousa Coutinho, Governador e Capitão General dos Estados do Grão Pará e Maranhão de 1763 a 1772.
- D. Leonor Maria de Ataíde (c. 1648 - Lisboa, Mercês, Rua Formosa, 30.11.1720), que casou em Lisboa, freguesia das Mercês, em 23.02.1675, com Sebastião de Carvalho e Melo (c. 1625 - Lisboa, Mercês, 26.01.1719); são os avós paternos de Sebastião José de Carvalho e Melo, 1.º Marquês de Pombal.[16]
- José da Costa de Ataíde, que estudou em Coimbra e fez carreira na Índia, “retirando-se depois para Pombal”.
Referências
- ↑ Arquivo Distrital do Porto, Livro Misto da freguesia de S. Miguel de Rans, nº 1, p. 2 ("Dom João de Ataíde e Azevedo ... baptizado em 30 de novembro de 1587")
- ↑ Cardoso, Augusto-Pedro Lopes (1 de janeiro de 2019). «Vicente Novais, o que veio rico da Índia». Armas e Troféus, Revista de História, Heráldica, Genealogia e Arte: 291. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ a b c Pereira, Esteves; Rodrigues, Guilherme (1904). Portugal : diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, bibliographico, numismatico e artistico. Vol. 1. Getty Research Institute. Lisboa: J. Romano Torres. p. 849
- ↑ a b c Freitas, Jorge P. de (30 de janeiro de 2009). «O combate da Atalaia da Terrinha, 5 de Junho de 1647 (4ª parte)». Guerra da Restauração. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ Freitas, Jorge Penim de (2017). «O sentido de "pertença" na raia alentejana durante a Guerra da Restauração: identidades e fidelidades num clima de conflito» (PDF). Revista de Estudios Extremeños, 2017, Tomo LXXIII, Número III. pp. 2617 – 2618
- ↑ «Paróquia de Fornelos». pesquisa.adb.uminho.pt. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ «(D.) João de Ataíde. Alvará. Comenda de S. Salvador de Fornelos 27.07.1647 - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ Freitas, Jorge P. de (28 de janeiro de 2009). «O combate da Atalaia da Terrinha, 5 de Junho de 1647 (3ª parte)». Guerra da Restauração. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ Freitas, Jorge P. de (27 de março de 2008). «João Pascácio Cosmander e o assalto a Olivença (18 de Junho de 1648)». Guerra da Restauração. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ «Regras militares da cauallaria ligeira, compostas per Dom João de Azeuedo e Attayde [entre 1644 e 1647] - Biblioteca Nacional Digital». purl.pt. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ Freitas, Jorge P. de (24 de abril de 2008). «Postos do exército português (2) – o soldado de cavalaria». Guerra da Restauração. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ Freitas, Jorge Penim de (8 de outubro de 2018). «Entre a espada e a pena: as "Regras Militares da Cavalaria Ligeira" de D. João de Azevedo e Ataíde» (PDF). Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ «Mistos ('Recebeo o padre...Dom João datayde com Dona Catrina de Saa e Souza...na sua Quinta de Pombal ... aos dezanove dias de Julho 1623 ...')». pesquisa.auc.uc.pt Arquivo da Universidade de Coimbra. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ Marques, Marisa Pires (3 de julho de 2017). «Mem de Sá: um Percurso Singular no Império Quinhentista Português»: 234. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ «Mistos. '...aos nove dias do mês de outubro de 1624 ... baptizou o bispo dom Frei João bispo da China a Isabel filha de D. João de Ataíde». pesquisa.auc.uc.pt Arquivo da Universidade de Coimbra. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ a b Gorjão-Henriques, Miguel. «Por linhas direitas (1): em volta de Carvalhos, de Carvalhos Magalhães e da Rua Formosa - genealogias várias». Armas e Troféus: 136 - 137, 134. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ Gaio, Felgueiras (1938). «Biblioteca Nacional Digital Nobiliário de famílias de Portugal / Felgueiras Gaio. Tomo Terceiro - [Braga] : Agostinho de Azevedo Meirelles : Domingos de Araújo Affonso». purl.pt. pp. 151 – 152. Consultado em 15 de janeiro de 2023